Arte de contestação e a falta de cismas de nossos tempos

Cildo Meireles "PROJETO COCA-COLA"

Vários artistas de caráter cismático podemos citar para esta análise. Citando alguns deles, podemos dizer que a relação entre Duchamp, Leirner e Meireles é muito estreita, apesar de viverem em épocas distintas e em contextos bem diferentes. Marcel Duchamp foi um dos alicerces do Dada, vanguarda modernista que questionava toda a forma de arte, criando uma não arte. Um marco zero, sem influências, tentando assim, recriar a arte no pós primeira guerra. Nelson Leirner, que era filho de pais que atuavam no meio artístico, questionava os critérios usados para definir arte em seu tempo. Criou a sua própria não-arte para questionar a arte vigente, chegando a questionar até o porquê de ser convidado a expor em Brasília. Os elementos da natureza, inseridos em contextos culturais remetem muito à idéia dos “ready-mades”, de Duchamp, como o “Mictório”. Digamos que a mesma função que Duchamp teve no início do século XX inserindo “Bigodes e cavanhaque na Monalisa”, Lerner teve na década de 60, com sua obra “O Porco”. Cildo Meireles, mais recente que o último, contou com um vasto material cultural em seu tempo que favorecia a criação destas inserções contestatórias: A Ditadura Militar vigente, a guerra fria que, no contexto mundial, estava em seu pleno auge. Tudo é questionamento para estes três artistas, tão criativos e impares do século XX.

Marcel Duchamp "L.H.O.O.Q."

Hoje em dia, digamos, que os fatores ambientais que temos não possuem tamanha dimensão. O Brasil vive uma democracia estável. O mundo não vê a ameaça de duas potências se enfrentarem em muitos anos. Porém os problemas sutis de nosso tempo, que são ainda os mesmos problemas sutis do tempo de Meireles por exemplo, continuam. A pobreza, a má distribuição de renda, os conflitos religiosos em todo mundo, os problemas com a marginalização do índio, do louco, a perda do poder aquisitivo do povo, as potências dominando os emergentes...


Nelson Leirner "Você faz parte"

Não temos mais grandes muros de Berlim para quebrar, porém, os temas que temos são tão pequenos em relação aos grandes fatos do século passado que não repercurtiriam como deveriam, se tradatos como atemporais. Pois o povo sabe que temos problemas, mas os mesmos sempre estiveram lá, sem solução. Por isso a breve sensação de que a arte hoje se passa sem grandes obras, sem grandes cismas ou expoentes. Logicamente é um periodo passageiro, como em toda história se repetiu, porém, mostra-se como a preconização de alguma quebra nos paradigmas estéticos. Atentos, vamos esperar para ver.

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