Artigo: As influências da arte no design e na moda, em um editorial brasileiro da década de 1960.
Por:
SAUTCHUCK, Camila
SANTOS, Euclides
GIAZZI, Flávia
AMORIM, Renata
BELTRAMIM, Vanessa
Orientação:
SANTOS, Euclides
GIAZZI, Flávia
AMORIM, Renata
BELTRAMIM, Vanessa
Orientação:
PRECIOSA, Rosane. Dr.
SUDSILOWSKY, Sérgio. Msc
Universidade Anhembi Morumbi.
Especialização em Design, Produção e Tecnologia Gráfica.
SUDSILOWSKY, Sérgio. Msc
Universidade Anhembi Morumbi.
Especialização em Design, Produção e Tecnologia Gráfica.
Palavras chaves: arte, moda, design gráfico, editorial.
Resumo: O artigo aborda algumas das inter-relações entre arte, moda e design na produção editorial brasileira da década de 1960, utilizando como recorte algumas publicações destinadas ao público feminino. A produção estética da época, representada neste projeto com destaque para as correntes artísticas Pop Art e Op Art, “contaminou” a moda, seja contribuindo com a saturação e o contraste na cartela de cores nos projetos de estamparia, seja nas formas geométricas (geralmente bicolores) resultantes em silhuetas diversificadas.
No design das publicações, com ênfase para os editoriais de moda, encontramos as mesmas referências, além de experimentações psicodélicas, resgate exagerado de temáticas Art Nouveau, tanto a partir das escolhas das fontes tipográficas, ilustrações, como nas formas orgânicas e assimétricas da diagramação.
Nosso propósito é o de enfatizar tais relações existentes entre os temas, que permeiam o universo da expressão artística e cultural de uma década que quebrou paradigmas e que se destaca, ainda hoje, pelas suas notáveis produções.
No design das publicações, com ênfase para os editoriais de moda, encontramos as mesmas referências, além de experimentações psicodélicas, resgate exagerado de temáticas Art Nouveau, tanto a partir das escolhas das fontes tipográficas, ilustrações, como nas formas orgânicas e assimétricas da diagramação.
Nosso propósito é o de enfatizar tais relações existentes entre os temas, que permeiam o universo da expressão artística e cultural de uma década que quebrou paradigmas e que se destaca, ainda hoje, pelas suas notáveis produções.
Key words: art, fashion, graphic design, editorial.
Abstract: The article intends to board the relations among art, fashion and design on the decade of 1960, focusing female magazines. The esthetics productions of the epoch represented in this project trough the artistic movements Pop and Op Art, infected fashion, sometimes with Pop Art, contributing in the patterns with the saturation and the contrasts in the colors, sometimes with Op Art, with its geometric shapes bicolor. In the publications design, art made itself present trough the fashion editorials that remitted to some movements as Art Nuveau and Op Art, and in the graphic projects, from the typography choices and psychedelic shapes. Our main intention is to evidence the relations between the themes that rounds the universe of artistic and cultural expressions of a decade which broke standards and outstand itself, until today, for its productions.
Abstract: The article intends to board the relations among art, fashion and design on the decade of 1960, focusing female magazines. The esthetics productions of the epoch represented in this project trough the artistic movements Pop and Op Art, infected fashion, sometimes with Pop Art, contributing in the patterns with the saturation and the contrasts in the colors, sometimes with Op Art, with its geometric shapes bicolor. In the publications design, art made itself present trough the fashion editorials that remitted to some movements as Art Nuveau and Op Art, and in the graphic projects, from the typography choices and psychedelic shapes. Our main intention is to evidence the relations between the themes that rounds the universe of artistic and cultural expressions of a decade which broke standards and outstand itself, until today, for its productions.
Contexto
A década de 1960 foi marcada por grandes transformações políticas, econômicas e socioculturais em todo o mundo ocidental, período bastante heterogêneo e paradoxal: com a reconstrução da Europa do pós 2ª guerra, seguido da recuperação econômica, os países que hoje chamamos de “desenvolvidos” estavam em uma era de plena ascensão nos já citados campos, com destaque para o desenvolvimento tecnológico, a produção de bens de consumo e o estímulo ao consumismo desenfreados. A maioria das sociedades estavam tomadas por um sentimento de otimismo, sobretudo pela crença em atingir um padrão de vida elevado a partir do consumo. Por outro lado, no hemisfério oriental, o socialismo se estabelecia, baseado nos ideais de Karl Marx, que propunham a extinção de classes sociais, a partir do fim da propriedade privada.
Estes dois grandes blocos – conhecidos então como “Primeiro Mundo e Segundo Mundo” -, praticamente dividiam o planeta em dois lados que lutavam pela hegemonia mundial, configurando o que conhecemos como “Guerra Fria”, que teve como principais cenários das disputas, dois pontos de interesse: as corridas armamentista nuclear e a espacial.
No Brasil, apesar de não fazer parte de nenhum dos dois blocos – éramos, então, um país do “Tercei Mundo” -, também ocorriam diversas transformações. A economia, sustentada anteriormente pela agricultura, tornava-se cada vez mais industrializada e a sociedade estava submetida a um regime político ditatorial, estabelecido pelos militares, que detinham o controle do Estado. A censura imposta limitava a expressão de toda e qualquer ideia contrária ao regime vigente, sendo enfática quando direcionada à jornalistas e à produção cultural dos artistas nacionais, e seja quem fosse que se rebelasse contra o governo (e esse papel foi assumido por muitos jovens estudantes), era reprimido com violência. Até o fim da década, diversas pessoas foram exiladas, torturadas ou mortas.
A Estética dos 60
A partir dessas situações foram surgindo pensadores, intelectuais e artistas que se opunham ao modelo dominante, imposto pelos governantes e pela grande massa; essa nova corrente de pensamento foi denominada Contracultura. Assim, sob o “guarda-chuva” da contracultura, correntes artísticas se formaram, estilos literários e musicais foram criados e a produção visuais dessa nova estética também acompanhava toda a movimentação do “ser do contra”: a literatura da “Beat Generation”, o surgimento tímido do Rock’n Roll a partir da música negra, a Pop Art, ao produção cinematográfica e outras manifestações que na década de 60 teriam seu apogeu, como o “Maio Francês” de 1968 (protestos estudantis contra o novo sistema educacional proposto pelo governo francês), começaram a ligar as artes ao comportamento, influenciando o início das primeiras gangues de jovens, das primeiras revoltas contra os professores e políticos e do surgimento dos primeiros rebeldes sem causa. Aos poucos, estas manifestações juvenis que entraram na década de 60, ainda isoladas e desprovidas de uma causa ou um fim objetivo foram tomando forma e conscientização.
No Brasil, o período é de ambiguidade cultural. Enquanto o país era dominado politicamente pela direita militar, a cultura era mantida pela esquerda, contrária ao regime imposto. A esquerda cultural, se assim podemos chamar, surgiu a partir de diversos grupos culturais tais como o Centro Popular de Cultura da UNE, o Teatro Arena, o Teatro Opinião e Universidades. Contava também com artistas talentosos como Chico Buarque, Ferreira Gullar, Oduvaldo Viana Filho, Algusto Boal, Guarnieri, Geraldo Vandré, Carlos Lyra, Edu Lobo, entre outros. Representando a classe artística a favor, ou simplesmente conivente com o regime ditatorial, havia a Jovem Guarda, que conquistou a massa, através do seu “Iê Iê Iê” e de artistas como Roberto e Erasmo Carlos, Vanderléia, entre outros. Em meio a este embate ideológico entre indústria cultural e cultura engajada, surge uma terceira corrente já na segunda metade da década chamada de Tropicalismo. A Tropicália, como era conhecida, era muito bem alinhada com o que estava ocorrendo no mundo como a contracultura, correntes artísticas e as contestações. Este movimento foi um dos mais cultuados internacionalmente, principalmente pela sua enorme criatividade, inserindo novamente, o país no contexto artístico internacional. Outros destaques da produção cultural nacional foram
Glauber Rocha com o Cinema Novo, Hélio Oiticica e Lígia Clark e suas instalações neo-concretistas, José Celso Martinez Correia e seu teatro anárquico, Os Mutantes com infinitas fusões musicais dentro do rock, Ziraldo na produção editorial, entre outros.
É nesse turbilhão de acontecimentos e criatividade que um novo conceito de arte se processa. É talvez na na transição do modernismo para o pós-modernismo que duas correntes artísticas se formam: a Pop e a Op Art.
A Pop Art funcionava como uma crítica à arte modernista, não objetiva e distante do público; caracterizava-se como irônica e sarcástica e criticava o consumismo desenfreado. Era culturalmente mais acessível às massas, por apresentar ao espectador elementos como filmes, celebridades, anúncios, embalagens de produtos e outros objetos facilmente identificáveis, pertencentes à vida real. Estes aspectos resultaram na “eliminação de distinções entre belas-artes e consumo de massa”. A Pop Art, cujas obras eram produzidas em série, possui como característica estética em destaque, a repetição de imagens e saturação de cores e de temas, como a fama, assunto abordado constantemente nas obras produzidas. Andy Warhol e Roy Lichtenstein podem ser citados como dois dos principais artistas representantes do movimento.
A Op Art, expressão inglesa, derivada de Optical Art, iniciou-se nos anos 1960, na Europa e teve seu auge nos Estados Unidos, entre 1965 e 1968. Os artistas da Op Art estavam interessados nas propriedades científicas de como a cor e a linha eram processados pela retina e como esta informação era traduzida pelo cérebro. Eles descobriram que através da manipulação desses elementos, a nossa percepção pode ser enganada ou distorcida. É partindo desse princípio que o nome Optical Art é definido, referenciando ilusões ópticas. Em geral, as composições eram formadas de objetos sequenciais, traços, cores ou formas que se sobrepunham em padrões dinâmicos que, através de sua ordem, provocam efeitos de pulsação, vibração, tremor ou uma interferência na interpretação da forma real, criando um aspecto lúdico e curioso. O estilo do movimento foi bastante utilizado na indústria e na mídia em geral, assim como na publicidade, na moda, no design, no cinema e na televisão. Esteve também presente nas artes gráficas, em materiais como cartazes e flayers. Foi muito bem representada por Bridget Riley e Victor Vasarely e continua marcando presença nos dias atuais.
Design e produção gráfica
Alguns exemplos visuais, da produção estética da década, podem ser traduzidos através do design, que acompanhou e retratou a situação econômica e política do período. Foi muito influenciado pelo conceito de “obsolescência premeditada”, com a reprodução e redesenho de peças e produtos que não continham novas funções, apenas um novo modelo. As indústrias produziam os seus bens, não pensando em durabilidade e sim, no consumo rápido e na reposição periódica.
Em contrapartida, peças desenvolvidas a partir de novos processos de impressão, com a utilização de novas tecnologias, foram utilizadas, principalmente pelos jovens, como ferramentas de comunicação de cunho político, em manifestações a fim de conscientizar a população. O principal veículo utilizado era o pôster. Enquanto o Estado detinha o controle da televisão e do rádio, os jovens exprimiam nas ruas, a sua contestação.
Nas artes gráficas, a partir da releitura da Art Nouveau, dos temas fluidos, do feminino e do orgânico somados à estética hippie, aos efeitos lisérgicos das drogas (principlmente o LSD) e à Pop Art geram um novo formato estético chamado de psicodélico. Capas de discos, cartazes, impressos, capas de revistas continham um pouco desta influência que chega a transcender a linguagem gráfica, passando a abundar no cinema, na literatura e até em letras de música como Yellow Submarine dos Beatles.
Nos Estados Unidos o Underground surge na contramão da produção gráfica da época e inovando em diversos aspectos o trabalho dos designers. Este movimento se caracterizava pela estreita ligação com os concertos musicais, principalmente de rock. O uso da tipografia psicodélica, de cores vibrantes e contrastantes e de uma inspiração visível em experiências com drogas, dava identidade ao movimento, além do uso de tecnologias gráficas de reprodução simples (feitas em um maquinário ultrapassado e em papéis baratos) acessíveis a qualquer um, o chamado “Faça-você-mesmo”. Este estilo de produção precedeu a editoração eletrônica no que diz respeito ao controle do processo, que antes era feito exclusivamente pelo impressor e, a partir daí, passou a ser feito pelo designer que pôde criar com mais liberdade e conhecimento de seus limites.
O Brasil recebia, nessa época, influências predominantes do exterior e os processos de produção não eram tão desenvolvidos por aqui. Somente no final da década de 1960, agremiações de profissionais de desenho industrial começaram a surgir de modo discreto e, ainda assim, não com foco no design gráfico. Estas agremiações iniciaram as primeiras discussões sobre a identidade nacional do design e sua função social, para o progresso sustentável da atividade em nosso país, na esteira de pensadores do design social no mundo.
Arte, Moda e Design
Nessa década, onde a ordem era jovialidade, a moda foi extremamente relevante como forma de expressão. A indústria e o prêt-à-porter já estavam consolidados e os movimentos de criação eram baseados na experimentação e na inovação, muito bem representada pela utilização de novos materiais, como chapas de metais, arames e alicates utilizados em peças de Pacco Rabanne e nos looks futuristas e espaciais de Pierre Cardin. É nesse período que ocorrem mudanças no comportamento feminino, que o comprimento de vestidos diminui e que a minissaia é criada por André Courreges. Ainda se tratando de comportamento, o conceito unissex é criado, a moda serve para ele, tanto quanto para ela. As calças compridas e paletós foram inseridos no cotidiano feminino por Yves Saitn Laurent e o jeans, palavra de ordem, em diversos estilos e customizações é utilizado por ambos os sexos.
Unificando os exemplos visuais citados: artes plásticas, design e moda, pertencentes à produção estética do período vigente, percebemos inúmeras influências e relações. A relação com a arte se faz presente no universo da moda, em diversos aspectos. Na estamparia, na produção e comercialização e em produtos editoriais. Na estamparia, Yves Saint Laurent inovou com o vestido tublinho estampado com desenhos do pintor Mondrian. A Pop Art também marcou as minissaias, através do uso de cores contrastantes e saturadas, estilizadas em malhas de alta qualidade.
No Brasil, artistas plásticos como Alfredo Volpi, Manabu Mabe e Wyllis de Castro estampavam as suas criações com base nos principais movimentos artísticos da década, como a Pop e a Op Art, com a intenção de divulgar um conceito de moda, arte e brasilidade, através da utilização de tecidos como suporte.
Emílio Pucci, da Itália, também trouxe as suas referências, com sua estamparia geométrica orgânica ultra colorida em tubinhos, body-suits e meias. O aspecto do psicodelismo através de matérias novas como o plástico e o acrílico, além das estampas multicolores se fizeram presentes tanto nas artes gráficas como na moda. Os movimentos da Pop e da Op Art muito contribuíram para a ornamentação das roupas na estamparia. A Pop Art privilegiando rostos famosos, produtos de consumo popular, histórias em quadrinhos etc., em interpretações dos trabalhos de Andy Warhol e Roy Liechtenstein; enquanto a Op Art evidenciava os efeitos óticos geométricos, fossem coloridos ou preto e branco, de Victor Vassarely.
Na produção e comercialização, as butiques acompanharam os ideais da Pop Art. Cada vez mais populares e em maior número, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, apresentaram ao público de forma mais acessível, a criação dos estilistas. A produção das roupas é feita em grande escala, nos tamanhos P, M e G, assim como as obras dos artistas pop.
Tratando ainda de influências, vários personagens também tiveram seu papel na popularização do consumo de moda como é o exemplo dos Beatles, que ditaram moda com “seus terninhos”, cabelos “tijelinhas” e “modelos coloridos”; Mary Quant, estilista inglesa, que ajudou a difundir a minissaia e a meia-calça, através do próprio uso e de sua loja, a “Bazaar”; Twiggy, a super modelo da época, com seu visual ingênuo e infantil, seus cabelos curtos e olhos maquiados, de bonecas, lembrando o estilo Lolita, considerado em alta. A moda masculina também aderiu à modernidade, trazendo aos homens casacos de zípers, tecidos sintéticos com estampas coloridas, calças estreitas e botas. A moda unissex contribuiu para que o homem se tornasse mais vaidoso e preocupado com sua aparência.
Nos EUA, a contestação social e política na moda, veio através dos hippies, com roupas simples e populares que não distinguiam classes sociais. O visual era composto por patchwork, detalhes artesanais, bordados, aplicações e calças boca de sino. A partir da segunda metade da década, o movimento “flower power”, com os slogans “paz e amor”, “faça amor, não faça guerra”, contra a guerra do Vietnã tomaram as ruase contaminaram visuais.
A produção editorial de Moda no Brasil: revista “Manchete”, um recorte Nas publicações editoriais, a relação entre os temas citados passa a existir quando as revistas começam a utilizar a fotografia, ao invés da ilustração, para apresentar as criações de estilistas, e o design das páginas passa a ter mais importância e ser mais bem trabalhado. Mundialmente falando, Vogue e Vanity Fair foram as primeiras publicações a adotarem novas linguagens.
Por aqui a influência internacional esteve bastante presente. As referências francesas nos modelos, cenários e editoriais predominaram até a metade do século XX. O panorama começou a mudar com a revista Manequim, lançada em 1959 pela Editora Abril, e que é considerada a primeira revista de moda do país. As revistas “rivais”, Cruzeiro e Manchete, ambas consideradas “de interesses gerais” (ou seja, não focavam a Moda exclusivamente), publicavam matérias sobre o Brasil e o cotidiano de seu povo, procurando valorizar a cultura, indústria, enfim, a identidade nacional.
A Manchete foi lançada em 1952 pela Editora Bloch, tinha uma maior preocupação com a qualidade visual e de impressão, priorizando imagens a textos. De inspiração na revista ilustrada “Paris Match”, publicada na França, como esta a Manchete explorava o fotojornalismo como principal forma de linguagem.
A década de 1960 foi marcada por grandes transformações políticas, econômicas e socioculturais em todo o mundo ocidental, período bastante heterogêneo e paradoxal: com a reconstrução da Europa do pós 2ª guerra, seguido da recuperação econômica, os países que hoje chamamos de “desenvolvidos” estavam em uma era de plena ascensão nos já citados campos, com destaque para o desenvolvimento tecnológico, a produção de bens de consumo e o estímulo ao consumismo desenfreados. A maioria das sociedades estavam tomadas por um sentimento de otimismo, sobretudo pela crença em atingir um padrão de vida elevado a partir do consumo. Por outro lado, no hemisfério oriental, o socialismo se estabelecia, baseado nos ideais de Karl Marx, que propunham a extinção de classes sociais, a partir do fim da propriedade privada.
Estes dois grandes blocos – conhecidos então como “Primeiro Mundo e Segundo Mundo” -, praticamente dividiam o planeta em dois lados que lutavam pela hegemonia mundial, configurando o que conhecemos como “Guerra Fria”, que teve como principais cenários das disputas, dois pontos de interesse: as corridas armamentista nuclear e a espacial.
No Brasil, apesar de não fazer parte de nenhum dos dois blocos – éramos, então, um país do “Tercei Mundo” -, também ocorriam diversas transformações. A economia, sustentada anteriormente pela agricultura, tornava-se cada vez mais industrializada e a sociedade estava submetida a um regime político ditatorial, estabelecido pelos militares, que detinham o controle do Estado. A censura imposta limitava a expressão de toda e qualquer ideia contrária ao regime vigente, sendo enfática quando direcionada à jornalistas e à produção cultural dos artistas nacionais, e seja quem fosse que se rebelasse contra o governo (e esse papel foi assumido por muitos jovens estudantes), era reprimido com violência. Até o fim da década, diversas pessoas foram exiladas, torturadas ou mortas.
A Estética dos 60
A partir dessas situações foram surgindo pensadores, intelectuais e artistas que se opunham ao modelo dominante, imposto pelos governantes e pela grande massa; essa nova corrente de pensamento foi denominada Contracultura. Assim, sob o “guarda-chuva” da contracultura, correntes artísticas se formaram, estilos literários e musicais foram criados e a produção visuais dessa nova estética também acompanhava toda a movimentação do “ser do contra”: a literatura da “Beat Generation”, o surgimento tímido do Rock’n Roll a partir da música negra, a Pop Art, ao produção cinematográfica e outras manifestações que na década de 60 teriam seu apogeu, como o “Maio Francês” de 1968 (protestos estudantis contra o novo sistema educacional proposto pelo governo francês), começaram a ligar as artes ao comportamento, influenciando o início das primeiras gangues de jovens, das primeiras revoltas contra os professores e políticos e do surgimento dos primeiros rebeldes sem causa. Aos poucos, estas manifestações juvenis que entraram na década de 60, ainda isoladas e desprovidas de uma causa ou um fim objetivo foram tomando forma e conscientização.
No Brasil, o período é de ambiguidade cultural. Enquanto o país era dominado politicamente pela direita militar, a cultura era mantida pela esquerda, contrária ao regime imposto. A esquerda cultural, se assim podemos chamar, surgiu a partir de diversos grupos culturais tais como o Centro Popular de Cultura da UNE, o Teatro Arena, o Teatro Opinião e Universidades. Contava também com artistas talentosos como Chico Buarque, Ferreira Gullar, Oduvaldo Viana Filho, Algusto Boal, Guarnieri, Geraldo Vandré, Carlos Lyra, Edu Lobo, entre outros. Representando a classe artística a favor, ou simplesmente conivente com o regime ditatorial, havia a Jovem Guarda, que conquistou a massa, através do seu “Iê Iê Iê” e de artistas como Roberto e Erasmo Carlos, Vanderléia, entre outros. Em meio a este embate ideológico entre indústria cultural e cultura engajada, surge uma terceira corrente já na segunda metade da década chamada de Tropicalismo. A Tropicália, como era conhecida, era muito bem alinhada com o que estava ocorrendo no mundo como a contracultura, correntes artísticas e as contestações. Este movimento foi um dos mais cultuados internacionalmente, principalmente pela sua enorme criatividade, inserindo novamente, o país no contexto artístico internacional. Outros destaques da produção cultural nacional foram
Glauber Rocha com o Cinema Novo, Hélio Oiticica e Lígia Clark e suas instalações neo-concretistas, José Celso Martinez Correia e seu teatro anárquico, Os Mutantes com infinitas fusões musicais dentro do rock, Ziraldo na produção editorial, entre outros.
É nesse turbilhão de acontecimentos e criatividade que um novo conceito de arte se processa. É talvez na na transição do modernismo para o pós-modernismo que duas correntes artísticas se formam: a Pop e a Op Art.
A Pop Art funcionava como uma crítica à arte modernista, não objetiva e distante do público; caracterizava-se como irônica e sarcástica e criticava o consumismo desenfreado. Era culturalmente mais acessível às massas, por apresentar ao espectador elementos como filmes, celebridades, anúncios, embalagens de produtos e outros objetos facilmente identificáveis, pertencentes à vida real. Estes aspectos resultaram na “eliminação de distinções entre belas-artes e consumo de massa”. A Pop Art, cujas obras eram produzidas em série, possui como característica estética em destaque, a repetição de imagens e saturação de cores e de temas, como a fama, assunto abordado constantemente nas obras produzidas. Andy Warhol e Roy Lichtenstein podem ser citados como dois dos principais artistas representantes do movimento.
A Op Art, expressão inglesa, derivada de Optical Art, iniciou-se nos anos 1960, na Europa e teve seu auge nos Estados Unidos, entre 1965 e 1968. Os artistas da Op Art estavam interessados nas propriedades científicas de como a cor e a linha eram processados pela retina e como esta informação era traduzida pelo cérebro. Eles descobriram que através da manipulação desses elementos, a nossa percepção pode ser enganada ou distorcida. É partindo desse princípio que o nome Optical Art é definido, referenciando ilusões ópticas. Em geral, as composições eram formadas de objetos sequenciais, traços, cores ou formas que se sobrepunham em padrões dinâmicos que, através de sua ordem, provocam efeitos de pulsação, vibração, tremor ou uma interferência na interpretação da forma real, criando um aspecto lúdico e curioso. O estilo do movimento foi bastante utilizado na indústria e na mídia em geral, assim como na publicidade, na moda, no design, no cinema e na televisão. Esteve também presente nas artes gráficas, em materiais como cartazes e flayers. Foi muito bem representada por Bridget Riley e Victor Vasarely e continua marcando presença nos dias atuais.
Design e produção gráfica
Alguns exemplos visuais, da produção estética da década, podem ser traduzidos através do design, que acompanhou e retratou a situação econômica e política do período. Foi muito influenciado pelo conceito de “obsolescência premeditada”, com a reprodução e redesenho de peças e produtos que não continham novas funções, apenas um novo modelo. As indústrias produziam os seus bens, não pensando em durabilidade e sim, no consumo rápido e na reposição periódica.
Em contrapartida, peças desenvolvidas a partir de novos processos de impressão, com a utilização de novas tecnologias, foram utilizadas, principalmente pelos jovens, como ferramentas de comunicação de cunho político, em manifestações a fim de conscientizar a população. O principal veículo utilizado era o pôster. Enquanto o Estado detinha o controle da televisão e do rádio, os jovens exprimiam nas ruas, a sua contestação.
Nas artes gráficas, a partir da releitura da Art Nouveau, dos temas fluidos, do feminino e do orgânico somados à estética hippie, aos efeitos lisérgicos das drogas (principlmente o LSD) e à Pop Art geram um novo formato estético chamado de psicodélico. Capas de discos, cartazes, impressos, capas de revistas continham um pouco desta influência que chega a transcender a linguagem gráfica, passando a abundar no cinema, na literatura e até em letras de música como Yellow Submarine dos Beatles.
Nos Estados Unidos o Underground surge na contramão da produção gráfica da época e inovando em diversos aspectos o trabalho dos designers. Este movimento se caracterizava pela estreita ligação com os concertos musicais, principalmente de rock. O uso da tipografia psicodélica, de cores vibrantes e contrastantes e de uma inspiração visível em experiências com drogas, dava identidade ao movimento, além do uso de tecnologias gráficas de reprodução simples (feitas em um maquinário ultrapassado e em papéis baratos) acessíveis a qualquer um, o chamado “Faça-você-mesmo”. Este estilo de produção precedeu a editoração eletrônica no que diz respeito ao controle do processo, que antes era feito exclusivamente pelo impressor e, a partir daí, passou a ser feito pelo designer que pôde criar com mais liberdade e conhecimento de seus limites.
O Brasil recebia, nessa época, influências predominantes do exterior e os processos de produção não eram tão desenvolvidos por aqui. Somente no final da década de 1960, agremiações de profissionais de desenho industrial começaram a surgir de modo discreto e, ainda assim, não com foco no design gráfico. Estas agremiações iniciaram as primeiras discussões sobre a identidade nacional do design e sua função social, para o progresso sustentável da atividade em nosso país, na esteira de pensadores do design social no mundo.
Arte, Moda e Design
Nessa década, onde a ordem era jovialidade, a moda foi extremamente relevante como forma de expressão. A indústria e o prêt-à-porter já estavam consolidados e os movimentos de criação eram baseados na experimentação e na inovação, muito bem representada pela utilização de novos materiais, como chapas de metais, arames e alicates utilizados em peças de Pacco Rabanne e nos looks futuristas e espaciais de Pierre Cardin. É nesse período que ocorrem mudanças no comportamento feminino, que o comprimento de vestidos diminui e que a minissaia é criada por André Courreges. Ainda se tratando de comportamento, o conceito unissex é criado, a moda serve para ele, tanto quanto para ela. As calças compridas e paletós foram inseridos no cotidiano feminino por Yves Saitn Laurent e o jeans, palavra de ordem, em diversos estilos e customizações é utilizado por ambos os sexos.
Unificando os exemplos visuais citados: artes plásticas, design e moda, pertencentes à produção estética do período vigente, percebemos inúmeras influências e relações. A relação com a arte se faz presente no universo da moda, em diversos aspectos. Na estamparia, na produção e comercialização e em produtos editoriais. Na estamparia, Yves Saint Laurent inovou com o vestido tublinho estampado com desenhos do pintor Mondrian. A Pop Art também marcou as minissaias, através do uso de cores contrastantes e saturadas, estilizadas em malhas de alta qualidade.
No Brasil, artistas plásticos como Alfredo Volpi, Manabu Mabe e Wyllis de Castro estampavam as suas criações com base nos principais movimentos artísticos da década, como a Pop e a Op Art, com a intenção de divulgar um conceito de moda, arte e brasilidade, através da utilização de tecidos como suporte.
Emílio Pucci, da Itália, também trouxe as suas referências, com sua estamparia geométrica orgânica ultra colorida em tubinhos, body-suits e meias. O aspecto do psicodelismo através de matérias novas como o plástico e o acrílico, além das estampas multicolores se fizeram presentes tanto nas artes gráficas como na moda. Os movimentos da Pop e da Op Art muito contribuíram para a ornamentação das roupas na estamparia. A Pop Art privilegiando rostos famosos, produtos de consumo popular, histórias em quadrinhos etc., em interpretações dos trabalhos de Andy Warhol e Roy Liechtenstein; enquanto a Op Art evidenciava os efeitos óticos geométricos, fossem coloridos ou preto e branco, de Victor Vassarely.
Na produção e comercialização, as butiques acompanharam os ideais da Pop Art. Cada vez mais populares e em maior número, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, apresentaram ao público de forma mais acessível, a criação dos estilistas. A produção das roupas é feita em grande escala, nos tamanhos P, M e G, assim como as obras dos artistas pop.
Tratando ainda de influências, vários personagens também tiveram seu papel na popularização do consumo de moda como é o exemplo dos Beatles, que ditaram moda com “seus terninhos”, cabelos “tijelinhas” e “modelos coloridos”; Mary Quant, estilista inglesa, que ajudou a difundir a minissaia e a meia-calça, através do próprio uso e de sua loja, a “Bazaar”; Twiggy, a super modelo da época, com seu visual ingênuo e infantil, seus cabelos curtos e olhos maquiados, de bonecas, lembrando o estilo Lolita, considerado em alta. A moda masculina também aderiu à modernidade, trazendo aos homens casacos de zípers, tecidos sintéticos com estampas coloridas, calças estreitas e botas. A moda unissex contribuiu para que o homem se tornasse mais vaidoso e preocupado com sua aparência.
Nos EUA, a contestação social e política na moda, veio através dos hippies, com roupas simples e populares que não distinguiam classes sociais. O visual era composto por patchwork, detalhes artesanais, bordados, aplicações e calças boca de sino. A partir da segunda metade da década, o movimento “flower power”, com os slogans “paz e amor”, “faça amor, não faça guerra”, contra a guerra do Vietnã tomaram as ruase contaminaram visuais.
A produção editorial de Moda no Brasil: revista “Manchete”, um recorte Nas publicações editoriais, a relação entre os temas citados passa a existir quando as revistas começam a utilizar a fotografia, ao invés da ilustração, para apresentar as criações de estilistas, e o design das páginas passa a ter mais importância e ser mais bem trabalhado. Mundialmente falando, Vogue e Vanity Fair foram as primeiras publicações a adotarem novas linguagens.
Por aqui a influência internacional esteve bastante presente. As referências francesas nos modelos, cenários e editoriais predominaram até a metade do século XX. O panorama começou a mudar com a revista Manequim, lançada em 1959 pela Editora Abril, e que é considerada a primeira revista de moda do país. As revistas “rivais”, Cruzeiro e Manchete, ambas consideradas “de interesses gerais” (ou seja, não focavam a Moda exclusivamente), publicavam matérias sobre o Brasil e o cotidiano de seu povo, procurando valorizar a cultura, indústria, enfim, a identidade nacional.
A Manchete foi lançada em 1952 pela Editora Bloch, tinha uma maior preocupação com a qualidade visual e de impressão, priorizando imagens a textos. De inspiração na revista ilustrada “Paris Match”, publicada na França, como esta a Manchete explorava o fotojornalismo como principal forma de linguagem.
Bibliografia
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BONADIO, Maria Claudia. O fio sintético é um show! Moda, política e publicidade; Rhodia S.A. 1960-1970. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.
BRAGA, João. História da moda: uma narrativa. São Paulo: Anhembi Morumbi, 2004.
CALDEIRA, Jorge. Viajem pela História do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
DENIS, Rafael Cardoso. Uma Introdução à História do Design. São Paulo: Edgard Blücher, 2000.
HOLLIS, Richard - Design Gráfico: uma história concisa. São Paulo - Martins Fontes, 2001
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Acesso em 01/04/2006, às 20h15.
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Acesso em 01/04/2006, às 19h12.
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Disponível em:
Acesso em 01/04/2006, às 22h49.
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Acesso em 01/04/2006, às 23h33.
Museu de Arte Contemporânea da USP.
Disponível em:
Acesso em 01/04/2006, às 18h41.
O portal da história.
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Acesso em 01/04/2006, às 16h10.
Op art.
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