A correção entre Ligia Clark e Helio Oiticica
Máscaras Sensoriais, de 1967, da artista Lygia Clark.
Lygia Clark, originalmente é pintora. Ao mudar-se para o Rio, inicia seus estudos com Burle Marx e depois, muda-se para Paris, onde acaba iniciando um profundo estudo artístico com Fernand Léger, Arpad Szenes e Isaac Dobrinsky. Quando retorna ao Brasil, participa do Grupo Frente, juntamente com Hélio Oiticica e posteriormente funda o Grupo Neocontreto. Ao iniciar a sua transição da pintura para as obras tridimensionais, passa a criar obras onde o publico é levado a interagir com a mesma, gerando uma reação de experiência mais profunda com a arte. Suas pesquisas nessa área se tornam tão profundas que ela passa a desenvolver arte não mais voltada ao corpo, mas a partir do corpo, chegando até a propor e estudar formas terapêuticas no uso da arte.
"Nildo da Mangueira", P4 Capa I. Parangolé,1964
Hélio Oiticica inicia seus estudos com Ivan Serpa, líder do Grupo Frente junto com seu Irmão, César Oiticica e neste período, começa a escrever seus primeiros registros sobre Artes Plásticas. Parte para o Grupo Neoconcreto a partir de 59, juntamente com Lygia Clark e, a partir daí, começa a sua busca pela retirada das pinturas de seu âmbito bidimensional para algo mais tridimensional, usando texturas, estandartes, bólides, dentre outros recursos. Em 65, veste seus Parangolés na porta do MAM-RJ e é expulso da mostra. Inicia-se aí uma forte relação o cotidiano da periferia para dentro de sua arte, criando performances, instalações, fotografias retratando a arte das favelas e das ruas. Estética da Ginga, um livro de Paola Berenstein Jacques, descreve, de forma primaz a forma como o carioca mostra o lado artístico na arquitetura de periferia, a partir das instalações de Oiticica.
Sob influências das Vanguardas Européias do início do século XX, mais precisamente do Cubismo, na concepção de obras tridimensionais iniciadas nas colagens, do Surrealismo, na concepção da interpretação das sensações do ser humano e do seu inconsiente e do Dadaísmo, na forma de romper a barreira unicamente visual das obras de arte para dar a elas uma dimensão de maior sinestesia a partir da interação com o público, Lygia Clark, junto com outros artistas, funda o Grupo Neoconcreto, quebrando a supremacia da Razão industrialista e progressista do Concretismo da época para iniciar uma experiência mais sensível, sensorial e interativa da arte. Daí para frente, a arte passa a se fazer muito mais independente da interpretação do publico, passando a ser interativa. A pintura e a escultura, pura e simples, dão espaço às instalações e às performances dos artistas, formas de arte inexploradas até então.
Lygia, passa a se dedicar ao movimento com tanta intensidade que torna-se consagrada pela sua experimentação, não mais voltada para o corpo, como elemento captador das sensações, mas a partir do corpo, tendo ele como ponto de partida fundamental para a criação artística, transendendo até a estudos terapêuticos com o uso da arte em interação. Podemos observar isso em uma de suas mais famosas obras, a “Baba Antropofágica”, onde a artista faz do corpo do espectador, um carretel que enrrola a baba saída da boca, inspirada em um sonho que teve, onde de sua própria boca, uma baba saia incessantemente, aflingindo a artista.Hélio Oiticica, passa a integrar o Grupo Neoconcreto junto a Lygia Clark, e com ele, uma esfera social passa a integrar as obras Neoconcretas.
Oiticica, insere na sua obra o cotidiano da periferia, passando a criar instalações inspiradas em favelas, escolas de samba e elementos marginalizados. Como mencionado acima, inicia esta fase com a sua expulsão da mostra Opnião 65 no MAM-RJ, quando da sua tentativa de inserir na exposição a Escola de Samba da Mangueira e iniciando uma exposição paralela na porta do Museu, com seus Parangolés vestidos com os figurinos dos Sambistas na sua Mostra Ambiental. Um bom exemplo de sua obra Neoconstrutivista é a Performance “Nildo da Mangueira”, de 1964. Paola Jacques, define muito bem a criação de Oiticica em “Estética do Gingado” (Rioarte) como uma obra onde a periferia passa a se tornar a arte do espontâneo do povo, ignorada pela artuitetura e embasado na necessidade básica de um abrigo, uma moradia.
Análise criada a partir dos textos de “Estética da Ginga”, de Paola Berenstein Jacques, Ed. Rioarte, Material de Referência “Educação Pública e XXIV Bienal de São Paulo” HSBC Bamerindus – Experimentando a obra de Lygia Clark e o Site Enciclopédia Artes Visuais do Itaú Cultural (http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia/artesvisuais2003/home/index.cfm)