O que foram os anos 60?

Kimbi - O veículo se tornou o simbolo da cultura hippie por ser simples e funcional.

O que foram os anos 60? O que houve que mexeu tanto com as bases do mundo? Por que são tão polêmicos esses anos?

Questões como essa inspiraram a produção desta matéria. Com o olhar acerca da arte, do design e da moda, Camila Saultchuck e Crido Santos vão apresentar a vocês um pouco do que captamos na pesquisa que fizeram.

Para isso, vamos comentar sobre os fatos históricos, a cultura, a arte, o que se fazia em design naquela época e o que se fazia em moda. Adentraremos então para a análise das revistas comuns da época, com ênfase nas publicações voltadas para o público feminino e com assuntos voltados pra a moda. Terminaremos apresentando nossa peça gráfica que, alem de abrigar de uma forma diferente nossa pesquisa, exprime visualmente, tudo o que estudamos neste semestre, servindo de painel de referências gráficas e visuais para nós, e para todos os que se interessarem.


Historia:

Moçambique na década de 1960

A década de 60 é marcada pela guerra fria que chega ao seu ápice mais ou menos em 68. A América Central recebe a primeira revolução socialista, para espanto dos EUA e vanglória da extinta URRS. Na América Latina pipocam as ditaduras militares de direita, na África as primeiras movimentações de independência começam a eclodir. Na Europa, as manifestações estudantis vão ganhando cada vez mais força.

No brasil, como não poderia deixar de ser, as agitações também foram grandes. A década começa com o incipiente governo de Jânio Quadros que, herdando um país próspero, porém, cheio de dívidas da gestão de Jucelino, tenta sanar a economia com medidas ortodoxas, gerando uma crise de descontentamento entre o empresariado, a oposição e o povo.

Jango, seu vice, era uma figura polêmica. Quando ministro do trabalho de Getulio, tomou uma atitude populista e aumentou o salário em 100%, causando o mesmo descontentamento no empresariado e na oposição, o que, para muitos, é o estopim para a grade crise daquele governo que culminou no suicídio do “pai dos pobres”. Sem apoio, sua posse é vetada pelos militares que, depois de um acordo que implantaria o parlamentarismo no país, permitiram sua posse sem poderes.

Seu governo é curto e desastroso. Sem apoio, sofre o golpe que implantaria a ditadura militar em 1964. Os militares por sua vez, conseguiram o intento que a tempos estavam tramando. Diferente de outras épocas, eles tinham agora o apoio popular e com o discurso progressista, conseguiram alçar o poder.

Em nome desse dito progresso, a ditadura tomou atitudes que envergonham até hoje a nação. Não cumpriram o acordo de devolver a democracia no fim do período de mandato de Jânio, promulgaram Atos Institucionais que suspenderam a constituição vigente de 1946 e promoveram torturas, deportações, mortes a revelia.

O povo, em sua maioria, iletrado e não dotado de um pensamento crítico suficiente para discernir a situação, simplesmente não observava os fatos. Porém, muitos agentes, políticos, intelectuais e artísticos preferiram não se calar, formando uma coluna de mártires que tombaram por uma justiça que viria 24 anos mais tarde.


Cultura:

Moda dos anos 1960 - Cores, liberdade, contestação e atitude.

Neste período, pelo mundo todo, fervilhavam manifestações culturais novas. A partir dos poemas da Beat Genaration, dos grupos e cantores de Rock, a cultura pop emergente, somados ao apreço pela sociedade de consumo, do próprio consumismo e da reafirmação do American Way of Life, uma série de novas atitudes começa a pipocar. Gente jovem querendo sexo livre, pensando e agindo pelas minorias, usando drogas alucinógenas, pregando a paz e o amor em contraponto a guerra e pedindo por uma nova atitude da sociedade fundavam, sem pretensão, o que chamamos hoje de contracultura.

Foi nesse espírito que, a juventude entra a década aos poucos se politizando, se unindo, não a uma instituição pré-definida, mas a si mesmas. Grupos de jovens em escolas e universidades saiam às ruas pedindo o fim da guerra do vietnã. Em todo mundo era reconhecida a injustiça para com aquele povo. Injustiça essa que catalisou toda a insatisfação da época com sua forma de pensar agir e viver. Para aqueles jovens, o sonho americano era fracassado pois tomava a liberdade individual de cada um ao troco que oferecia um padrão de vida material elevado, bens de consumo infinitos, opções de escolha vasta nas prateleiras e aparelhos que facilitavam a vida de qualquer um a apenas um apertar de botões.

Este era o modelo de homem que Marcuse, autor que fez a cabeça dos jovens da época, chamava de “Homem Uminidirecional”, título de uma de suas principais obras. Exatamente esta obra fazia a discussão acerca de uma sociedade autoritária que, ao mesmo tempo que subordina, subsidia, mantendo todos os indivíduos em ordem de obediência. Contestar o sistema era contestar ao progresso, ou seja, um ato incoerente.

No auge desta agitação, surgem os grandes festivais de musica como o de Woodstock, celebrando todos estes pensamentos e ideologias. Surge a cultura Underground, contestando o modo de vida estabelecido. Surgem também os Hippies, condensando o modo de vida da contratultura. A Nova Esquerda, repensando as bases sociais dos dois grandes blocos. Os Yippies e o Youth International Party, politizando a atitude Hippie e colocando-os em ordem de batalha contra tudo o que havia de errado na sociedade.

No Brasil, além de toda a profusão de pensamentos que ocorria no exterior e inevitavelmente passaria por aqui, tínhamos a recém Ditadura implantada. Isso direcionou a pouca juventude engajada a lutar pelos ideais de um mundo melhor por aqui também, o que significava enfrentar uma ditadura inconseqüente muitas vezes até a morte.

A cultura no Brasil, ao contrario do que pareça, não foi de imediato controlada pelo Estado. O mais curioso ainda é que, quem mais expressava a cultura e seus agitos era justamente a esquerda, através de órgãos como o CPC da Une por exemplo. De lá, surgiu a maioria dos polêmicos artistas de protesto da época. Enquanto os gritos de guerra eram cantados ou interpretados nos palcos, os militares rangiam os dentes de ódio, tramando os planos que endureceriam de vez o regime por anos.

Pelo meio da década, uma expressão cultural começou a pipocar dentre os jovens dentro do regime militar. O movimento chamado de Jovem Guarda apresentava a nova leva de artistas de grande visibilidade que, com um apelo conivente com o sistema, tomavam a atenção da população com temas românticos, engraçados e até de uma branda rebeldia juvenil. Este movimento foi execrado pela cultura engajada que, agora passava cada vez mais ao submundo, perdendo seu espaço nas massas e assim, seu poder de atuação.

Ao final da década um importante movimento surge flertando com as duas antagônicas vertentes. O Tropicalismo, como assim foi chamado, tanto flertava com a cultura de massa como, intelectualmente, inseria sua carga de contestação a tudo o que estava estabelecido. Sua maior virtude foi fazer, assim como o movimento antropofágico da década de 20 e a bossa nova da década anterior, uma fusão inteligente e altamente criativa dos elementos nacionais com as correntes internacionais, tanto artísticas quanto filosóficas, ganhando os palcos do mundo todo e colocando a arte brasileira novamente em evidência.




Design

Vestido Tubinho de Saint Lauren

O design da década é marcado pelo espírito de prosperidade que varava a década de 50, com o sucesso das economias reconstruídas do pós-guerra. Este espírito de prosperidade também era sustentado pelo alto padrão de vida experimentado por boa parte da população que, com condições suficientes, poderiam se inserir no mundo do consumismo, aproveitando todas as suas beneces e fazendo girar uma economia baseada no fenômeno do consumo desenfreado.

É nesta esteira que se desenvolve a idéia de Obsolecência programada. Nesta filosofia, todo produto deveria ser renovado de período em período, fazendo com que o anterior ficasse obsoleto. Inovações funcionais nem sempre eram introduzidas, o que obrigava pelo menos o desenvolvimento de um novo desenho para tal produto. Esse foi um fator determinante na evolução do campo do design como um todo.

No campo do Design Gráfico em especial era tratado como a grande panacéia da comunicação da época. Esse fato despertou o interesse de diversos estudiosos da época que formularam várias teorias acerca deste campo da comunicação. Uma das mais expressivas é a de Marchall McLuhan, onde ele defende que a partir da evolução dos processos de produção gráficos, o “meio” passou a ter o mesmo poder de comunicação que a “mensagem”. Ou seja, tanto o conteúdo verbal quanto o não verbal estão em mesmo nível de comunicação para o interlocuror, aumentando assim o interesse em sofisticar não só os textos usados, mas sim todo o layout e design das peças, abrindo assim o leque de possibilidades criativas.

Em paralelo a este viés de sofisticação, um grande grupo de profissionais trabalhavam no submundo da comunicação, panfletando suas idéias contestadoras com recursos precários em tecnologia e ricos em criatividade. O ambiente político e social em ebulição na época propiciaram a criação de ateliês no meio Underground que, com maquinário ultrapassado e técnicas não convencionais, iniciaram um processo de adaptação do mercado criativo para a primeira experiência de controle total do processo feito diretamente pelo designer, que era feito exclusivamente pelos critérios do impressor, fato que lançou o que poderemos caracterizar como o principio fundamental do que hoje chamamos de Editoração Eletrônica.

Na Europa, este modelo foi tão bem sucedido que, na frança, para dar suporte a toda a mobilização estudantil, mais de 300 pessoas dispersas por toda a cidade produziam material para a difusão das idéias. O formato poster ganhou as ruas, chegando a competir com pe de igualdade com as idéias situacionistas propagadas pela TV. Em quanto os poderosos detinham a tv, o povo detinha o Pôster.

Ao final da Década, os profissionais do design começaram a flertar tanto com as idéias undergound como com sua militância, formando agremiações de criativos que absorviam o nkow-how das ruas em seus trabalhos, e em troca, forneciam seu empenho profissional e articulação nas campanhas contra as guerras e em prol de todas as causas defendidas.

No Braisl de 60 iniciam os primeiros estudos formais de Design não voltado ainda para o design gráfico em si. Vivíamos um momento precário em termos de tecnologia, fato corriqueiro em nossa industria. A baixa renda da população e sua falta de engajamento acabou por não gerar aqui o mesmo efeito político que o design gráfico surtiu em outras terras. Mesmo a industria editorial não desenvolveu um modelo tupiniquim de estética, importando os modelos criativos de fora.

Somente no fianl da década de 60 que agremiações de desingers começaram a surgir de maneira discreta, iniciando as discuções sobre o design local que o Brasil deveria ter e a sustentabilidade da atividade no país. Somente nas décadas seguintes pode se observar um ainda discreto progresso, tanto nos processos criativos do design gráfico, quanto na tecnologia, bem como uma certa evolução dos meios underground de produção.

Postagens mais visitadas deste blog

Faith Design

Arte Pop e sua relação com o Surrealismo e Dadaísmo

Peças gráficas, por onde começar?