Novos suportes, novas reflexões e velhos parâmetros.
Novas formas de expressão surgem quando há um aparente esgotamento dos suportes disponíveis para criação. Somando-se ao fato de novas tecnologias permitir um estilo de vida contemporâneo bem diferente ao experimentado até a poucas décadas e que gera um impacto socioambiental de ordens dantescas, os suportes artísticos passam a ser cada vez mais inusitados. Uma tela de computador, de celular, de um aparelho qualquer, um muro, um braço, perna, uma porta de um prédio público, tudo passa a ser usado como espaço para expressão, gerando uma reflexão que precede a própria proposta do autor. Até que ponto algo pode ser considerado arte e qual o parâmetro para julgar a arte como tal?
Quando colocamos o corpo e a cidade como suporte para a arte, criamos uma forma de tornar a arte mais acessível às pessoas. A diferença é que a arte convencional é exposta em museus e galerias e esta modalidade é exibida nas paredes e na própria pele de seus artistas. Há sim, um pequeno repúdio a este novo tipo de arte por parte dos mais conservadores e um descarte dos mais liberais das formas convencionais de arte. Mas este reflexo é comum em qualquer inovação.
A net art e a wap art, que constroem suas peças a partir de suportes que possibilitam a interação com os usuários mais remotos, também padecem deste mesmo tipo de reação. E ainda, por contar com um suporte tecnológico usado frequentemente para outros fins, passa por mais um crivo de aceitação. Não há um espaço definido, ou seja, em qualquer lugar esta arte pode ser apreciada, ou mesmo, participada, como num game ou software. Daí a observância por parte de quem aprecia em aceitá-la.
Porém, diferente de um game, que tem como intenção e conceito o entretenimento e a superação, a net e wap art, assim como toda a computer art pode utilizar-se de recursos de games, porém seu conceito é diferente. A interação não leva a um confronto contra a arte, mas sim a uma reflexão. Como toda a arte. Ficar jogando no celular é um exercício de luta contra o aparelho, postura que os artistas não tomam quando criam suas peças. Por outro lado, o recurso da superação, da competição pode ser usado como arte. Ai aparece o outro lado da questão: até que ponto um game pode ser considerado uma arte, ou vice versa?
Já presenciamos este tipo de reação em outras épocas da história como na inquisição da idade média, com o cerco às artes julgadas profanas, depois mais brandamente aceitas na Renascença, na transição para o romantismo, para o modernismo, nos anos 1960. Haverá provavelmente um período onde a sociedade terá a tarefa de refletir sobre esses novos suportes de arte, passando a aceitá-los mais naturalmente, considerando os novos suportes, expressões e tecnologias, sem é claro, abandonar o gosto pelos suportes tradicionais, esses que já provaram ser eternos.